Alidor Lueders
Competição. A questão da indústria de transformação.
A idéia de perscrutar, sondar, investigar o futuro, sempre é uma idéia que fascina os estudiosos, especialmente os de economia e política. Todos temos a capacidade inata de ponderar probabilidades, o que ajuda a orientar as nossas ações em todos os campos da atividade humana, embora nem sempre acertarmos os nossos julgamentos.No caso da indústria de transformação, cabe ao Brasil encontrar formas para perseverar e avançar em face das adversidades e se não agir corre o risco da desindustrialização. Não temos dúvidas de que fatores e condições adversas da macroeconomia, como: câmbio apreciado, juros e tributos elevados que oneram os investimentos e os produtos, falta de investimentos em infraestrutura que oneram a logística, e o denominado “Custo Brasil”, tem contribuído para que as indústrias manufatureiras de muitos segmentos não sejam mais competitivas a nível internacional na exportação, e ainda sofrem a competição com os produtos importados. Reconhecendo essas condições e fatores adversos e temendo o risco da desindustrialização, o governo apresentou o Plano Brasil Maior, inserindo medidas para responder a atual conjuntura.
A nova política industrial estabelecida pelo Plano Brasil Maior vem recebendo críticas de organismos internacionais por entenderem conter protecionismo. Pela sua abrangência e poder servir de diretriz ao governo, permitimo-nos abordar aspectos da entrevista dada pelo Primeiro-Ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, à Revista Veja, nas páginas amarelas de 18/04/2012 na medida em que enfatiza:
- Que o protecionismo pode dar oportunidades a curto prazo, mas é pouco eficiente a médio e longo prazo.
- Que não culpa a comunidade européia pela situação adversa em que se encontra o país, mas assume que os desequilíbrios existentes em Portugal são resultados de más decisões tomadas no próprio país.
- Que pretendem privatizar a companhia aérea TAP e empresas do setor energético e de transportes, aeroportos, correios, águas de Portugal, etc. com um misto de abertura ao capital privado e concessões públicas.
- Que o objetivo é tirar o estado da economia, acabar com o estado patrão, dono de empresas.
- Que pretendem atrair capital novo para Portugal recebendo empresas que podem internacionalizar a sua economia e tornar as empresas mais competitivas.
Da entrevista depreende-se claramente que o enfoque é colocar o “Estado no seu devido lugar”, com medidas que: não envolvam o protecionismo; privatizem empresas estatais; cortem benefícios sociais, de quem não precisar, enfim reduzam o custo do estado; e abram a economia, atraindo capital externo.
Vejamos a premissa de livre mercado, estabelecendo-se o protecionismo. Conceitualmente, o protecionismo abrange barreiras ao comércio e as finanças internacionais, e as restrições governamentais contra a livre concorrência no mercado interno. Entendemos que, o protecionismo e outras políticas públicas que buscam a estabilidade por meio de prevenção de mudanças necessárias ao crescimento, a médio e a longo prazo, não são o ideal. Mas concordamos que, a curto prazo, face aos fatores e condições competitivas do país, que são a causa da falta de competitividade da indústria, se faz necessário estabelecer medidas tributárias, financeiras, protecionistas, salvaguardas, etc. sob pena de desindustrialização.
Lembramos que, pequenos volumes de importação geralmente produzem o efeito de reduzir os preços em todo o mercado interno. Mas, no Brasil segmentos como calçados, têxtil, vestuário, móveis, etc. correm o risco de desaparecer em função de causas macroeconômicas.
O elevado Custo Brasil associados ao câmbio apreciado, geram pressões sobre preços e são corrosivos para a economia, se não houver medidas de estímulo e proteção a indústria a curto prazo. Aumentar continuadamente a carga tributária, atualmente correspondente a cerca de 36% do PIB, para sustentar o elevado custeio e a ineficiência do governo, tende a ser contraproducente para o crescimento econômico de longo prazo. A livre concorrência é um pressuposto da economia de mercado, e é o elemento fundamental para o democrático desenvolvimento da estrutura econômica do país.
A privatização de empresas estatais, que normalmente encontram obstáculos a nível político, por ideologia, por saudosismo, etc. ainda é a melhor forma de estimular a livre concorrência. Simplesmente manter o controle estatal sem levar em consideração os fatos, a real competitividade do setor, e a melhoria da prestação de serviços ao consumidor, não se coaduna mais com a economia de livre mercado. Ressalte-se que o artigo 170 de nossa Constituição Federal, adotou a livre iniciativa como forma de criar concorrência entre as diversas empresas, o que força as empresas a um constante aprimoramento de sua tecnologia, inovação, redução dos custos e a procura de oferecer produtos mais favoráveis ao consumidor. Mas o estado tem procurado fazer a sua parte no que diz respeito a eficiência e eficácia?
Através do Plano Brasil Maior o governo volta a estimular a ampliação do conteúdo local em vários segmentos (setores como: petróleo, naval, eletroeletrônicos, automotivo, etc.), estabelecendo legislação, financiamentos públicos, concessões, compras governamentais, etc. Porém, as medidas até o momento, tem se mostrado insuficientes para compensar os custos decorrentes do câmbio apreciado e do Custo Brasil, que oneram os investimentos e o custo dos produtos das empresas industriais.
Concluindo, há necessidade de se definir uma Política Industrial de Desenvolvimento que contemple a privatização, a redução do Custo Brasil, o aumento da produtividade das empresas e supra a carência qualitativa e quantitativa de mão de obra (educação) e que continue atraindo investimentos do exterior para produção e serviços no país. As estratégias começam e acabam, mas o objetivo competitivo sempre é o mesmo – obter a maior taxa de retorno sobre o investimento. Num contexto de competição global, a competição efetivamente funciona, desde que em mercados livres e abertos, onde o governo e a livre iniciativa tomem medidas visando o constante aprimoramento. O objetivo da legislação deve ser o de proteger e amparar todos os participantes da economia, criando-se regras de igualdade para competirem no mercado, atendendo o que diz respeito a proteção dos direitos individuais e dos direitos de propriedade, compatíveis com as aspirações nacionais.
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